terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Até onde você chegaria pela beleza?


Milhares de garotas vivem em busca da perfeição. Prova disso são os números que mostram a grande procura pelas intervenções estéticas e cirurgias plásticas no Brasil. Entre 1994 e 1999, o número de plásticas em adolescentes de 15 a 20 anos passou de 5 mil para 30 mil – um aumento de 600%. Coisa pouca, já que, nos últimos nove anos, o aumento foi de 1000%. O excesso de vaidade entre as brasileiras é tanto que pode se tornar uma doença. Tudo começa com algumas maquiagens e, quando você vê, já está cheia de creminhos para o rosto e depois se pega dizendo que adoraria ter o nariz de tal cantora ou que queria muito colocar silicone. Tudo bem ter alguma inspiração ou exemplo a seguir. O problema começa quando você não consegue diferenciar a sua vida da vida do artista. Ser gordinha, por exemplo, já foi moda, assim como estar abaixo do peso já saiu de moda. “O padrão da moda muda e passa deixando sequelas físicas e emocionais”, explica Carla Souza Pérez, médica cirurgiã da Sociedade Brasileira de Laser e Medicina Estética e autora do livro Beleza Sustentável. “Atendo adolescentes magras e que querem diminuir 3 cm no quadril, pois leram em algum lugar que o padrão de medida do quadril de uma modelo é abaixo de 90 cm.”A verdade é que ninguém nunca vai agradar a todo mundo.
Quando a vaidade vira doença
Se você é extremamente encanada com a sua aparência, usa milhares de cremes para tudo e já pensou em fazer diversas mudanças no corpo, fique atenta, você pode sofrer de dismorfofobia, a doença que explica o comportamento – e o nariz – do Michel Jackson, sabe como? Também chamada de síndrome da distorção da imagem, a dismorfofobia é um transtorno psicológico caracterizado pela preocupação obsessiva com algum “defeito” inexistente ou mínimo na aparência física. A pessoa se olha no espelho e sempre se sente feia, independentemente do que fizer. Esta fobia está cada vez mais relacionada às transformações que rolam na puberdade e o pior: descobrir que se tem a doença pode ser um desafio. Exagerar nos cosméticos para disfarçar imperfeições, ter muitos cuidados com os cabelos, fazer qualquer dieta, apresentar bulimia ou anorexia, praticar exercícios exageradamente e usar roupas que escondem o corpo são algumas características de quem sofre com a doença. A dismorfofobia pode ser desencadeada por diversos fatores como, por exemplo, baixa autoestima, uma infância com muitas críticas e até mesmo a grande exibição de figuras padrões do grupo em que a garota convive.
Pense bem
Tente contar quantas vezes você quis mudar a cor ou o corte de cabelo. Agora, procure se lembrar de quando você achava uma moda ridícula e depois voltou atrás e agora adora. Na adolescência, é normal ser inconstante, mudar de opinião o tempo todo e nunca ter certeza de que é isso o que realmente quer. Por isso, tome cuidado ao tomar uma decisão tão definitiva quanto uma cirurgia plástica. “Muitas vezes a menina não conseguirá dar conta de sua transformação, mesmo que seja uma pequena mudança – como se não pudesse se reconhecer. Por outro lado, a imaturidade pode ser apresentada no aspecto afetivo, quando a menina coloca toda a felicidade de sua vida nas questões corporais e, mais ainda, na tentativa de seguir os padrões de beleza, que nem sempre são possíveis de serem alcançados”, explica a psicanalista Elizandra Souza. Ou seja, respeite os limites do seu corpo. Se você tem, por exemplo, 1,55 m de altura, nunca terá 1,80 m. E é assim que rola com outras partes do corpo, também. A leitora Kenia de Oliveira é o exemplo de garota que não aceitou o que a genética lhe ofereceu. Como sempre foi muito magra, achava os seios muito pequenos e não ficava contente com nenhuma roupa, até que decidiu colocar prótese de silicone. “Minha prima me incentivou a fazer a cirurgia dizendo que iria ficar muito bom, então, como ela já tinha feito, decidi fazer com o mesmo médico que a operou”, conta. Mesmo depois da cirurgia, Kenia ainda tem dúvidas sobre o procedimento e não está satisfeita. “Depois da cirurgia todos disseram que ficou muito natural, mas ainda não estou totalmente feliz com o resultado. Ficou bonito, mais harmonioso, mas, ainda assim, queria maior. Penso em colocar mais silicone daqui a algum tempo. Por enquanto, vou esperar para ver se mudo de opinião.”
Em risco
A adolescência é marcada por profundas transformações físicas e emocionais, que podem resultar de modo negativo com uma intervenção desnecessária ou fora de hora. Por isso, é preciso pensar bem antes de encarar uma maca de cirurgia. “Vaidade é importante para nos manter saudáveis, com boa aparência e garantir uma boa autoestima. O problema está em quando nos esquecemos de que não somos apenas o nosso corpo”, completa Ruben Penteado, cirurgião plástico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Por isso, gata, pergunte-se o quanto vale a sua beleza e a sua saúde. Você está disposta a comprometer uma pela outra? A lipoaspiração é um ótimo exemplo disso. É uma cirurgia que envolve muitos riscos, portanto, pense muito bem antes de apelar para um procedimento como este. Antes de tudo, procure alternativas, como fazer atividades físicas e ter uma boa alimentação. A aplicação precoce do botox, por exemplo, também pode causar alterações de expressão, do sorriso, queda da pálpebra, dificuldade da mastigação e até da fala, além de problemas como alergias e hematomas. Segundo a Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos, em 2009, a toxina botulínica foi injetada em americanos com idades entre 13 e 19 quase 12 mil vezes, mesmo sendo desnecessária. “Na adolescência, o botox não oferece qualquer benefício, não faz sentido correr tais riscos, mas, mesmo assim, ainda existem garotas realizando o procedimento por pura vaidade, sem ninguém saber”, explica o cirurgião plástico.
Limites saudáveis
Para começar a pensar na possibilidade de realizar alguma transformação física, é preciso considerar se a sua “imperfeição” realmente prejudica a saúde ou o desenvolvimento social e emocional. Intervenções a fim de auxiliar o bom desenvolvimento do corpo podem ser feitas sem medo. Assim, quem tem mamas muito grandes, que dificultam muitas vezes atividades comuns, pode tê-las corrigidas precocemente. Este foi o caso de Gabriela Souza. A estudante sempre foi baixinha e com pouco quadril, portanto, achava que os seios eram grandes demais para o seu corpo. E realmente eram. Ao procurar um ortopedista para saber qual a razão de sentir tanta dor nas costas, Gabi descobriu que o tamanho e o peso de seus seios eram os responsáveis pelo incômodo. A partir daí, ela não conseguiu tirar a ideia da cabeça. Conversou com os pais e, juntos, decidiram que diminuir os seios seria a melhor opção. “Eu decidi fazer a cirurgia porque não estava feliz com meu corpo. Muitas pessoas comentavam e tiravam sarro. Eu morria de vergonha! Sentia-me muito infeliz. Tentava esconder os meus seios de todas as formas possíveis. Usava blusa de frio até no calor. Sentia-me feia por não poder usar roupas bonitas como via outras garotas usando. Meus pais e amigos sempre diziam que era bobeira, mas pra mim nunca foi bonito. Minha autoestima era muito baixa”, conta Gabi, que admitiu não ter sido fácil encarar uma cirurgia dessas. Ela sentiu muita dor, passou mal e teve de ter muito cuidado com os curativos, mas, mesmo assim, ela garante que valeu a pena. “Estou muito mais feliz! Minha autoestima aumentou muito. Hoje em dia posso olhar no espelho e me sinto bem. Não tenho mais vergonha de usar certas roupas e, agora, uso biquíni sem camiseta por cima. Meus seios estão proporcionais ao meu corpo. Tenho vontade de agradecer todos os dias a meus pais por terem feito isso por mim. É uma cirurgia cara e difícil, mas, para se sentir bem, vale qualquer sacrifício.”
A escolha certa
“Qualquer procedimento invasivo exige maturidade para enfrentar suas possíveis consequências, que vão desde dor e imobilidade no momento pós-operatório até a insatisfação com o resultado. Muitas vezes esta maturidade não está presente na adolescente”, esclarece o doutor Ruben. A estudante Carolina Tonelli, por sua vez, fez tudo o que o médico mandou. “Resolvi me aprofundar sobre o assunto antes de tomar qualquer decisão. Fui saber como funcionava, se tinha algum risco, de quanto em quanto tempo tinha de trocar a prótese, preços, os tipos de prótese e tudo envolvido com a plástica”, explica a leitora, que fez a cirurgia, adorou e já dá conselhos para quem pergunta sobre o assunto: “a minha dica é lembrar-se sempre de que você é a primeira pessoa que tem de se achar bonita. Não faça nada pelo que os outros vão achar de você. Faça para você!” Então, antes de encarar qualquer procedimento estético, verifique se esgotaram as outras possibilidades de reparar o que a incomoda e, então, procure uma ajuda psicológica para entender melhor sua decisão. Só assim poderá fortalecer ou desistir da ideia.

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